Hesitar.
Atitude deficitária, associada aos fracos. O contrário daquilo que o performismo exige. O inverso da potência que vai nos tornar melhores, mais produtivos. Quem hesita está perdido?
Talvez não.
Nossa vida parece estar desatinada a produzir. O problema é quando nos tornamos puramente instrumentos de fazer. Quando diante do espelho, todas as manhãs, só decidimos afundar ainda mais o pé no acelerador. Para consolar a falta de tempo com as conquistas das coisas a nossa volta.
Por isso, eu desconfio se aqueles que hesitam estão fatalmente perdidos.
Porque a hesitação é própria de quem vive. Assim como corremos atrás do fazer, temos o direito (e o dever) ao ser. A pressa não pode ignorar por completo a lentidão. Pode tirar benefício dela.
Hesitação é o fragmento do tempo que deixamos em suspenso na vida ativa, para interromper o curso das resoluções automáticas recorrentes. É uma contravenção, é evocada pelos hereges do sistema. Hesitar se contrapõe a esse surto de certezas que nos envolve.
Somente na dúvida, incertos sobre nossos dias, é quando acessamos uma janela para a contemplação. Palavra que vem de cum e templum. Na antiguidade, expressava o espaço aberto nas cúpulas para que se interpretassem os sinais do futuro. Contemplar o futuro é uma expectativa necessária que todos nós sentimos.
Ao hesitar, damos uma chance a nós mesmos de colher da vida esse horizonte mais longe; e obter um lampejo de consciência para dilatar o sentido da nossa existência.
@edgarzuk