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Foto do escritorEdgar Powarczuk

Desconfio se aqueles que hesitam estão fatalmente perdidos

Hesitar.

Atitude deficitária, associada aos fracos. O contrário daquilo que o performismo exige. O inverso da potência que vai nos tornar melhores, mais produtivos. Quem hesita está perdido?

Talvez não.

Nossa vida parece estar desatinada a produzir. O problema é quando nos tornamos puramente instrumentos de fazer. Quando diante do espelho, todas as manhãs, só decidimos afundar ainda mais o pé no acelerador. Para consolar a falta de tempo com as conquistas das coisas a nossa volta.

Por isso, eu desconfio se aqueles que hesitam estão fatalmente perdidos.

Porque a hesitação é própria de quem vive. Assim como corremos atrás do fazer, temos o direito (e o dever) ao ser. A pressa não pode ignorar por completo a lentidão. Pode tirar benefício dela.


Hesitação é o fragmento do tempo que deixamos em suspenso na vida ativa, para interromper o curso das resoluções automáticas recorrentes. É uma contravenção, é evocada pelos hereges do sistema. Hesitar se contrapõe a esse surto de certezas que nos envolve.


Somente na dúvida, incertos sobre nossos dias, é quando acessamos uma janela para a contemplação. Palavra que vem de cum e templum. Na antiguidade, expressava o espaço aberto nas cúpulas para que se interpretassem os sinais do futuro. Contemplar o futuro é uma expectativa necessária que todos nós sentimos.


Ao hesitar, damos uma chance a nós mesmos de colher da vida esse horizonte mais longe; e obter um lampejo de consciência para dilatar o sentido da nossa existência.


@edgarzuk

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